Pois é, essa petite coqueluche da blogosfera nacional que, modestamente, adoptou o pseudónimo de "Maradona" (e que tão ternos mimos recebe da Fernanda Câncio, ai que inveja), em digressão a própósito da atribuição de mais um prémio a Álvaro Siza Vieira, acaba de também ele meter um golo com a mão.
Repare-se então neste pedaço da sua prosa: «gostei que ele tivesse aceite aceitar o interesseiro prémio, ainda para mais com a presença do Presidente da República o Professor Doutor Anibal António Cavaco Silva (em quem votarei) e da cabra da sua mulher, que (estes sim) teriam feito muito melhor em não se associar a estas hecatombes masturbatórias que eles, aliás, no íntimo desprezam e não compreendem; os comunistas, com o Álvaro Cunhal à cabeça, têm a estúpida mania de recusar ostensivamente as honrarias da sociedade burguesa, como se a aceitação de uma homenagem os corrompesse mais que a sua rendição à conjuntura que lhes permitiu desenvolver a sua arte. Até nisso o Siza Vieira me parece uma pessoa melhor que as outras, com certeza muito melhor que os outros comunistas, pessoas que, regra geral, são más.»
Indo directo aos quesitos, pura e simplesmente, Maradona efabulou quando resolveu sentenciar ou decretar a existência daquela estúpida mania dos comunistas. É verdade que, salve erro, Álvaro Cunhal indiciou declinar qualquer condecoração mas também é verdade é que nunca foi proposto para qualquer uma. E, depois, acresce, que a teoria da «mania» como querendo significar um comportamento geral não tem o mais pequeno fundamento, pois para já não falar de prémios literários mesmo em relação a condecorações no 25 de Abril ou no 10 de Junho não faltam militantes do PCP ou personalidades da área do PCP que as aceitaram.
Dir-se-á que no imensíssimo conjunto de condecorados são muito poucos os comunistas que recebem galardões (no caso da Ordem da Liberdade, a discriminação é clamorosa) mas essa já é outra história que tem origem em quem atribui e não em quem recebe.
E, pronto, quanto a aceitar prémios ou condecorações, sempre achei pode haver sempre boas razões para uma coisa ou outra, que ninguém deve julgar os outros e que cada um é que deve decidir de acordo com a sua reflexão individual.
Golo com a mão, portanto, este do Maradona da causa modificada ou estragada, já não sei bem. Só que aqui não foi a «mão de Deus», quando muito terá sido a «mão da ligeireza».