Como aqui foi noticiado e desfavoravelmente comentado, Paulo Varela Gones deu recentemente à estampa no "Público" uma sua declaração pessoal no sentido de que (sublinhado meu) «(...)enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.(...)».
Hoje, também no "Público" volta ao tema, regista as imensas cartas de apoio que recebeu, até aqui nada demais, mas sobretudo dá um grave passo que, bem vistas as coisas, não era díficil prever viesse a seguir à declaração acima citada.
Com efeito, depois de perguntar «o que é a oposição», Paulo Varela Gomes responde ele próprio (sublinhados meus, outra vez): «O CDS já esteve no poder algumas vezes. A esquerda parlamentar tornou-se a esquerda mansa e respeitável das «alternativas e das «propostas», talvez convencida de que parecendo ter «soluções», ganha votos, e de que esses votos a aproximam um centímetro que seja do poder. É uma esquerda que acabou tão identificada com o regime que parece ter-se esquecido de que o seu lugar tradicional é na rua , e a sua atitude histórica é a do confronto».
Aqui chegado, torna-se para mim absolutamente evidente e cristalino que o radicalismo emocional e desesperado da primeira citação estava mesmo a exigir a amálgama injusta e desonesta entre partidos e sobretudo uma falsificação de todo o tamanho sobre as orientações e concepções do PCP sobre o qual faltará saber se já não terá havido tempos anteriores em que Paulo Varela Gomes o terá considerado um mero partido de protesto, tribunício e de agitação social.
Dito isto, não vejo espanto nenhum que Paulo Varela Gomes tenha recebido muitas cartas de apoio. Em situações económicas e sociais como as que se vivem apelar ao grito de alma individual e ao radicalismo verbal mas inconsequente é fácil, não exige muito e dá certamente muitas cartas recebidas.
E, sobretudo, o que me parece imperdoável é este amesquinhamento por Paulo Varela Gomes das forças e corpos de convicções que, de facto, são indispensáveis para a mudança e a ruptura necessárias.
Além do mais, Paulo Varela Gomes que desculpe qualquer coisinha, mas eu, sendo favorável a um imenso alargamento da base social da luta contra esta política ( e designadamente com vista à greve geral de 24/11), não confio propriamente na chamada «classe média» como principal força propulsora da luta pois é historicamente conhecida a volatilidade dos seus humores e a inconstância dos seus objectivos políticos.