27 de maio de 2014

Olhem, já nada me causa admiração !



Sim, se uma pessoa séria, respeitável e informada como José Vítor Malheiros consegue escrever hoje no Público que PSD+CDS tiveram «uma suave derrota» (quando a verdade é que estes partidos de governo tiveram menos 20 pontos percentuais que os partidos que são ou se reclamam de oposição), então já nada me causa admiração.

É por isso que não me admiro por, também no Público de hoje, ver João Miguel Tavares, um dos inquilinos da última página, a escrever que «até um dos principais vencedores da noite -a CDU - teve menos votos em 2014 que em 2011.Claro que sei que a abstenção das europeias esteve 25 pontos percentuais acima da abstenção nas últimas legislativas. Mas isso não mofidifica o meu ponto: quando estamos no meio   de uma crise sem precedentes e a coligação perdeu dois milhões de eleitores, nem PS, nem Bloco nem sequer a CDU foram capazes de ir buscar um voto - um voto sequer - aos partidos do governo».

Embora me curve perante a cintilante e incomparável inteligência de João Miguel Tavares, atrevo-me à caridade lhe excplicar três coisas:

- a primeira é que é do domínio do surrealismo político e sociológico estranhar que, com a abstenção a aumentar 25 pontos, a CDU tivesse agora menos votos do que nas legislativas de 2011, como se algum partido pudesse ser total e absolutamente imune às consequências de um tamanho aumento da abstenção;

- a segunda é que os votos entrados nas urnas não têm nem nome, nem foto nem muito menos a votação da pessoa em 2011;

- e a terceira, decorrente da anterior, é que é absolutamente verosímil que PS, CDU e Bloco possam ter obtido votos vindos do PSD e do CDS ao mesmo tempo que eleitores seus de 2011 escolheram agora a abstenção.

João Miguel Tavares: compreendu ou isto é areia demais para a sua camioneta ?