Em artigo no «Público» de hoje, o prestigiado jornalista, lúcido comentador e respeitável homem de esquerda José Vítor Malheiros, além de afinfar umas valentes rabecadas no PSD, no CDS e em Paulo Rangel e de destilar um ácido remoque sobre o BE, escreve isto sobre o PS:
«
Vamos ter (…) doze dias de de discursos absolutamente vazios de
conteúdo do PS, dando uma no cravo e outra na austeridade, sempre
empenhado em atacar o governo com veemência ma
non troppo, num daqueles exercícios de hipocrisia e de
língua de trapos que são a razão do crescente desencanto dos
cidadãos com a democracia (...)» e que «vamos ver (…) Francisco
Assis (…) a tentar mostrar que qualquer política com o mínimo
cheirinho de esquerda pode conduzir a um cenário dantesco e como não
seria preciso muito para que o PS fizesse uma vaquinha com os
partidos do governo».
Mas,
depois disto, consegue escrever assim sobre a CDU :
«
E ao lado [do Bloco] vamos ter a
CDU, cujo esperado aumento de votos irá caucionar a sua pose
isolacionista e reforçar a sua convicção de que é imprudente e
precipitado sonhar com uma solução governativa à esquerda antes de
2060».
Ora,
confrontando estas duas citações, pode acontecer que José Vítor
Malheiros, num momento de má avaliação da inteligência dos seus
leitores, provoque afinal dois tipos de reacções:
- uma é que muitos eleitores aplaudam a atribuida «pose isolacionista» da CDU na medida em que ela significaria uma clarificadora, higiénica e saudável distância da «hipocrisia» e «língua de trapos» do PS e da sua manifesta propensão para «fazer uma vaquinha com os partidos do governo»;- a outra é que muitos leitores, que não vêem nenhuma pose «isolacionista» na CDU, compreendam lucidamente que o que a CDU não tem são os poderes mágicos que lhe permitam modificar a ostensiva realidade que está na origem das duras caracterizações que José Vítor Malheiros faz da orientação e postura do PS e do seu primeiro candidato a estas eleições para o PE.
Concluo
dizendo apenas que não há coisa mais imobilista do que esta
«conveniência » de bater em todos e esta cómoda tentação de
repartir artificialmente as culpas por todas as aldeias.