19 de maio de 2014

As habilidades trafulhas de João Teixeira Lopes



Em texto publicado no esquerda.net, o dirigente bloquista João Teixeira Lopes além da desonestidade de amalgamar o PCP com o Partido Comunista Grego e de - tal como Louçã - parecer preferir em matéria de privatizações os ingleses, americanos ou franceses aos chineses e angolanos (enquanto o PCP é contra as privatizações, ponto final, parágrafo), ocupa-se a estabelecer diferenças entre o PCP e a CDU em matéria europeia mas num quadro de ostensiva falsificação das posições do PCP. Como se pode ver :

Ora, entre outros truques, o que acontece é que João Teixeira Lopes, além de atribuir à CDU um tónica fundamental no euro como se a CDU falasse menos que o Bloco da renegociação da dívida e do Tratado Orçamental, relata as posições do PCP e da CDU sobre o euro com base nas simplificações ou selecções parciais de afirmações de dirigentes e candidatos correntemente feitas pelos media. E, por isso, recomendo apenas a João Teixeira Lopes que leia o que está escrito no sítio oficial da CDU.



«O PCP foi a única grande força política que alertou para as consequências e combateu a adesão ao Euro. E a vida veio dar razão ao PCP: divergência no plano económico e social arrastando Portugal para a cauda da Europa; um País completamente exposto à chantagem e extorsão dos “mercados”; degradação e abandono do aparelho produtivo; destruição da produção agrícola, nomeadamente nas pequenas e médias explorações; destruição de quase metade da frota pesqueira nacional; importação em massa de produtos de primeira necessidade que Portugal teria condições para produzir; perda de soberania económica e permanente chantagem e pressão externa, são algumas das consequências da entrada de Portugal no Euro. A realidade demonstra que o Euro não foi o “acesso ao mercado de 500 milhões de pessoas”, nem “a protecção face às crises económicas” e muito menos o acesso de Portugal ao “pelotão da frente”.  
Os dados económicos não deixam mentir. Desde a entrada do Euro que Portugal estagnou do ponto de vista do crescimento económico e que viu, em grande medida como consequência da destruição do aparelho produtivo, a sua dívida externa disparar até chegar aos inaceitáveis 130% do PIB da componente pública da dívida. Portugal é passada mais de uma década de Euro um país dependente, endividado, mais periférico e empobrecido. No plano social a entrada no Euro saldou-se numa tendência regressiva. Os salários regrediram, o desemprego subiu em flecha para mais de um milhão e quatrocentos mil trabalhadores, a precariedade alastrou e generalizou-se entre os jovens, a pobreza afecta quase três milhões de pessoas, as desigualdades dispararam, reduzem-se e encerram-se serviços públicos e o interior do País é votado ao esquecimento e à desertificação.
Foi baseado nesta análise que o PCP foi o primeiro partido a lançar o debate sobre uma solução para um problema que afecta não apenas Portugal mas vários países. Essa solução passa pela dissolução da União Económica e Monetária e pela substituição do Pacto de Estabilidade por um Pacto para o emprego e o desenvolvimento económico e social. Isto porque o Euro é, sempre foi, um projecto do grande capital europeu, das transnacionais europeias e do directório de potências comandado pela Alemanha. Foi aliás, em nome da defesa deste instrumento que PS, PSD e CDS impuseram o Pacto de Agressão e que se preparam agora novos sacrifícios para os trabalhadores e para o povo, muito para lá da troika.
O PCP não tem qualquer dúvida sobre a incompatibilidade entre a permanência no Euro e uma política alternativa patriótica e de esquerda. Portugal estaria em posição mais vantajosa se não tivesse aderido, perdemos muito com a entrada e podemos perder ainda mais uma vez que a crise económica e financeira está longe de estar terminada. Mas do mesmo modo que alertámos para os perigos da adesão ao Euro no passado, hoje não caímos no erro de defender uma pura e simples saída. Isto porque sair do Euro não significaria voltar à posição em que estávamos antes da adesão e acarretaria, mantendo-se a política de direita nos comandos da política económica, prejuízos para os trabalhadores e o povo.
Portugal terá, se quiser seguir um rumo de desenvolvimento económico e social soberano, de se libertar do colete de forças da União Económica e Monetária. Isso é inegável. Mas reduzir esse debate a um debate simplista sobre a saída seria uma abordagem redutora e ilusória.
A questão que se põe não é se se deve sair ou não, uma vez que nunca deveríamos ter entrado. A questão central é quais são as condições necessárias para Portugal poder recuperar a sua soberania económica e monetária. Isto porque uma saída do Euro (por vontade própria do país ou por vontade de terceiros) não será igual se realizada com um governo com uma política de direita (que empurraria para os mesmos de sempre as consequências dessa saída) ou com uma política patriótica e de esquerda. Assim, entendemos a libertação de Portugal do colete-de-forças do Euro e da UEM como um processo e não um momento. Um processo que inseparável da luta mais geral por uma ruptura com a política de direita, que tem de começar desde já a preparar o País para esse passo. Um processo que tem de apostar no desenvolvimento do tecido produtivo, na protecção dos direitos dos trabalhadores e do povo, no aumento do consumo interno por via do aumento dos salários e pensões, que tem que encarar o endividamento do país de frente, pondo imediatamente em marcha um processo de renegociação da dívida nos seus prazos montantes e juros, que tem de apostar na recuperação do controlo público dos sectores estratégicos, começando pela banca, que tem de inverter a actual política fiscal taxando o grande capital e indo aí buscar recursos para fazer face às necessidades de financiamento do Estado.
Libertar Portugal do Euro tem de estar associado ao desenvolvimento desta política tão necessária e urgente para Portugal. E isso só será possível com o reforço da CDU, porque não serão aqueles que nos trouxeram até aqui que nos vão salvar da sua própria obra de destruição.»