Em texto publicado no esquerda.net, o dirigente bloquista João Teixeira Lopes além da desonestidade de amalgamar o PCP com o Partido Comunista Grego e de - tal como Louçã - parecer preferir em matéria de privatizações os ingleses, americanos ou franceses aos chineses e angolanos (enquanto o PCP é contra as privatizações, ponto final, parágrafo), ocupa-se a estabelecer diferenças entre o PCP e a CDU em matéria europeia mas num quadro de ostensiva falsificação das posições do PCP. Como se pode ver :
Ora, entre outros truques, o que acontece é que João Teixeira Lopes, além de atribuir à CDU um tónica fundamental no euro como se a CDU falasse menos que o Bloco da renegociação da dívida e do Tratado Orçamental, relata as posições do PCP e da CDU sobre o euro com base nas simplificações ou selecções parciais de afirmações de dirigentes e candidatos correntemente feitas pelos media. E, por isso, recomendo apenas a João Teixeira Lopes que leia o que está escrito no sítio oficial da CDU.
«O PCP foi a única grande força política que alertou para as
consequências e combateu a adesão ao Euro. E a vida veio dar razão
ao PCP: divergência no plano económico e social arrastando Portugal
para a cauda da Europa; um País completamente exposto à chantagem e
extorsão dos “mercados”; degradação e abandono do aparelho
produtivo; destruição da produção agrícola, nomeadamente nas
pequenas e médias explorações; destruição de quase metade da
frota pesqueira nacional; importação em massa de produtos de
primeira necessidade que Portugal teria condições para produzir;
perda de soberania económica e permanente chantagem e pressão
externa, são algumas das consequências da entrada de Portugal no
Euro. A realidade demonstra que o Euro não foi o “acesso ao
mercado de 500 milhões de pessoas”, nem “a protecção face às
crises económicas” e muito menos o acesso de Portugal ao “pelotão
da frente”.
Os dados económicos não deixam mentir. Desde a entrada do Euro
que Portugal estagnou do ponto de vista do crescimento económico e
que viu, em grande medida como consequência da destruição do
aparelho produtivo, a sua dívida externa disparar até chegar aos
inaceitáveis 130% do PIB da componente pública da dívida. Portugal
é passada mais de uma década de Euro um país dependente,
endividado, mais periférico e empobrecido. No plano social a entrada
no Euro saldou-se numa tendência regressiva. Os salários
regrediram, o desemprego subiu em flecha para mais de um milhão e
quatrocentos mil trabalhadores, a precariedade alastrou e
generalizou-se entre os jovens, a pobreza afecta quase três milhões
de pessoas, as desigualdades dispararam, reduzem-se e encerram-se
serviços públicos e o interior do País é votado ao esquecimento e
à desertificação.
Foi baseado nesta análise que o PCP foi o primeiro partido a
lançar o debate sobre uma solução para um problema que afecta não
apenas Portugal mas vários países. Essa solução passa pela
dissolução da União Económica e Monetária e pela substituição
do Pacto de Estabilidade por um Pacto para o emprego e o
desenvolvimento económico e social. Isto porque o Euro é, sempre
foi, um projecto do grande capital europeu, das transnacionais
europeias e do directório de potências comandado pela Alemanha. Foi
aliás, em nome da defesa deste instrumento que PS, PSD e CDS
impuseram o Pacto de Agressão e que se preparam agora novos
sacrifícios para os trabalhadores e para o povo, muito para lá da
troika.
O PCP não tem qualquer dúvida sobre a incompatibilidade entre a
permanência no Euro e uma política alternativa patriótica e de
esquerda. Portugal estaria em posição mais vantajosa se não
tivesse aderido, perdemos muito com a entrada e podemos perder ainda
mais uma vez que a crise económica e financeira está longe de estar
terminada. Mas do mesmo modo que alertámos para os perigos da adesão
ao Euro no passado, hoje não caímos no erro de defender uma pura e
simples saída. Isto porque sair do Euro não significaria voltar à
posição em que estávamos antes da adesão e acarretaria,
mantendo-se a política de direita nos comandos da política
económica, prejuízos para os trabalhadores e o povo.
Portugal terá, se quiser seguir um rumo de desenvolvimento
económico e social soberano, de se libertar do colete de forças da
União Económica e Monetária. Isso é inegável. Mas reduzir esse
debate a um debate simplista sobre a saída seria uma abordagem
redutora e ilusória.
A questão que se põe não é se se deve sair ou não, uma vez
que nunca deveríamos ter entrado. A questão central é quais são
as condições necessárias para Portugal poder recuperar a sua
soberania económica e monetária. Isto porque uma saída do Euro
(por vontade própria do país ou por vontade de terceiros) não será
igual se realizada com um governo com uma política de direita (que
empurraria para os mesmos de sempre as consequências dessa saída)
ou com uma política patriótica e de esquerda. Assim, entendemos a
libertação de Portugal do colete-de-forças do Euro e da UEM como
um processo e não um momento. Um processo que inseparável da luta
mais geral por uma ruptura com a política de direita, que tem de
começar desde já a preparar o País para esse passo. Um processo
que tem de apostar no desenvolvimento do tecido produtivo, na
protecção dos direitos dos trabalhadores e do povo, no aumento do
consumo interno por via do aumento dos salários e pensões, que tem
que encarar o endividamento do país de frente, pondo imediatamente
em marcha um processo de renegociação da dívida nos seus prazos
montantes e juros, que tem de apostar na recuperação do controlo
público dos sectores estratégicos, começando pela banca, que tem
de inverter a actual política fiscal taxando o grande capital e indo
aí buscar recursos para fazer face às necessidades de financiamento
do Estado.
Libertar Portugal do Euro tem de estar associado ao
desenvolvimento desta política tão necessária e urgente para
Portugal. E isso só será possível com o reforço da CDU, porque
não serão aqueles que nos trouxeram até aqui que nos vão salvar
da sua própria obra de destruição.»