Uma coisa é a direcção de um partido, neste caso o Bloco de Esquerda, propor o que muito bem entender quanto à sua coordenação e os delegados à sua Convenção decidirão como lhes aprouver. Por mim, quanto à chamada cooordenação bicéfala, por um homem e uma mulher, tenho um palpite sobre quem é a comunicação social primeiro e a opinião pública depois transformarão de facto no «único» coordenador mas é assunto que politicamente não me aquece nem arrefece.
Outra coisa é, para justificar este solução ou proposta, avançar argumentos que reflexamente acabam por atirar estilhaços sobre outros partidos.
Foi o que fez Francisco Louçã quando com 22 anos de atraso (22 desde a fundação do Bloco e para aí uns 10 desde que é coordenador) descobriu que a coordenação apenas por um homem era coisa do século XIX.
Bastava-lhe ter dito antes e apenas que, nas circunstâncias actuais e na presente fase da vida do Bloco, lhe parecia ser essa a solução mais ajustada ou adequada.
Recorde-se que foi isso que fez o PCP quando elegeu Carlos Carvalhas secretário-geral adjunto ou quando, tendo terminado funções como secretário-geral, Álvaro Cunhal foi eleito Presidente de um novo órgão criado - o Conselho Nacional.
Nessas suas duas escolhas, o PCP não precisou nem recorreu a argumentos do género «isto são as soluções mais modernas ou com mais futuro».
Verdade se diga que a argumentação de Louçã está de acordo com a sua permanente pulsão para tudo do que dali venha seja sempre celofanizado em concepções ditas de grande «novidade» e «modernidade». Louçã é Louçã, já se sabe, ponto final.
Do que, francamente, não estava à espera é que em entrevista hoje ao Público, João Semedo referindo-se à coordenação bicéfala, tenha afirmado que «de facto não inventámos a roda, mas em Portugal não conheço outra e daqui a uns anos será é estranho um partido não seguir este caminho».
Com toda a cordialidade que a figura de João Semedo, ainda por cima meu conterrâneo, me merece, francamente não havia necessidade, tanto mais quando provavelmente tudo se limita sim a um natural e respeitável «estado de necessidade».