No seu «terceira noite», Rui Bebiano referindo-se ao PCP e ao BE, pergunta: «Que modelo de gestão do país propor quando até agora apenas se pensou e apresentou aquilo que se não queria, actuando politicamente na lógica quase exclusiva do protesto? O que estabelecer como propósito, em termos práticos e objectivos, no momento particularmente grave e crítico que vivemos, para resolver os problemas mais básicos do financiamento do Estado e do emprego?».
Eu não quero falar pelo BE mas sobre o PCP estou suficientemente informado para poder dizer que só pode escrever assim quem não se informa conscienciosamente, quem sobre o PCP só conhece títulos de jornais e que não tem nem um cisco de paciência para se inteirar de projectos de lei e outras propostas apresentadas na AR nem de muitas outras detalhadas e desenvolvidas intervenções sobre os principais problemas nacionais.
Não, não vou fornecer ao Bebiano nem uma cansativa lista de links nem de bibliografia.
Vou apenas propor-lhe que vá aqui ou compre a obra com os textos daquela Conferência do PCP, datada de 2007, onde mesmo folheando-a a vol d'oiseau terá a grata surpresa de descobrir a quantidade de sérios assuntos e problemas de que o PCP falou antes de ninguém, endividamento externo incluido.
Nessa Conferência, em Novembro de 2007, por exemplo, Octávio Teixeira afirmou:
«Uma análise séria da realidade económica do País mostra-nos que a questão nodal da economia portuguesa continua a ser o défice externo.
Primeiro, porque ele espelha as deficiências da nossa estrutura produtiva, a sua incapacidade para produzir um valor de bens e serviços suficiente para satisfazer as necessidades da sociedade portuguesa. E aí temos um défice da Balança de Transacções Correntes da ordem dos 10% do Produto, o que, neste âmbito e gravosamente, nos coloca no pelotão da frente dos 27 Estados da União Europeia.
Segundo, porque esse défice de produção significa menos possibilidades de emprego para os trabalhadores portugueses. E aí temos uma taxa de desemprego na ordem dos 8%, que não dá sinais de querer diminuir e igualmente nos coloca no pelotão da frente da UE.
E em terceiro lugar porque esse défice gera um crescimento permanente da dívida externa do País e, mais cedo ou mais tarde, essa dívida terá de ser paga. E se não o é com o aumento da produção, terá de o ser pela venda de activos nacionais, sejam eles empresas ou bens imóveis, ou através da redução do nível de vida da população portuguesa. E a dívida externa bruta do país tem vindo a aumentar a galope, com destaque para o endividamento do sistema bancário e os respectivos juros anuais são já equivalentes aos encargos totais com o Serviço Nacional de Saúde.»
Primeiro, porque ele espelha as deficiências da nossa estrutura produtiva, a sua incapacidade para produzir um valor de bens e serviços suficiente para satisfazer as necessidades da sociedade portuguesa. E aí temos um défice da Balança de Transacções Correntes da ordem dos 10% do Produto, o que, neste âmbito e gravosamente, nos coloca no pelotão da frente dos 27 Estados da União Europeia.
Segundo, porque esse défice de produção significa menos possibilidades de emprego para os trabalhadores portugueses. E aí temos uma taxa de desemprego na ordem dos 8%, que não dá sinais de querer diminuir e igualmente nos coloca no pelotão da frente da UE.
E em terceiro lugar porque esse défice gera um crescimento permanente da dívida externa do País e, mais cedo ou mais tarde, essa dívida terá de ser paga. E se não o é com o aumento da produção, terá de o ser pela venda de activos nacionais, sejam eles empresas ou bens imóveis, ou através da redução do nível de vida da população portuguesa. E a dívida externa bruta do país tem vindo a aumentar a galope, com destaque para o endividamento do sistema bancário e os respectivos juros anuais são já equivalentes aos encargos totais com o Serviço Nacional de Saúde.»
Agora é só ver se, no seu «terceira noite», nessa época Rui Bebiano já tinha descoberto o problema do endividamento do país.