O blogue «Ladrões de Bicicletas» publica com regularidade e maioritariamente textos com muito interesse e grande valor informativo e formativo, mas, pelos vistos, como têm 11 colaboradores, não pode naturalmente impedir que, de vez em quando, se torne abrigo para ideias de uma inenarrável estupidez e arrogância política, dignas de entrarem numa antologia do dislate atrevido.
É manifestamente o caso de um post de Jorge Bateira onde, a dado passo, se afirma o seguinte (para agora, o que interessa é a parte que sublinho):
«(...) Para romper com este impasse, a oposição precisa de mobilizar os cidadãos para acções de protesto pacífico numa escala e numa duração inéditas face às quais, à semelhança do que aconteceu na Islândia e na Bulgária, a queda do governo se tornaria inevitável. Para que tal pudesse acontecer, tendo em conta o descrédito em que caíram, os partidos da oposição teriam de a) participar numa frente política abrangente, liderada por um colectivo de cidadãos sem vínculo partidário e (b) assumir que o desenvolvimento do país, baseado numa política económica visando o pleno emprego, não é possível sem que o país recupere a soberania monetária. Só com uma mudança radical no seu posicionamento estratégico, ilustrado por estas duas condições, seria porventura ainda possível encontrar, antes das legislativas de 2015, uma resposta política progressista para o “tempo fascista” que vivemos.(...)»
Eu podia perder tempo e gastar linhas a desmontar esta tese generalizadora sobre o «descrédito» em que «caíram os partidos da oposição» e, pelo menos, manifestar a minha convicção de que o meu partido - o PCP - mantém um elevado crédito entre os seus eleitores e um crédito certamente superior ao que teria «um colectivo de cidadãos sem vínculo partidário»(quem seriam esses magos?) quem se atribuiria a liderança de uma «frente política abrangente». Eu também poderia demonstrar como no fundo é caudilhista e antidemocrática esta peregrina ideia de subordinar os partidos da oposição a uma liderança de génios, santos e sábios sem vinculação partidária. E, por fim, poderia ainda dizer que, para quem fala embora com comas em "tempos fascistas", é bastante infeliz esta ideia de uma espécie de união nacional oposicionista ainda por cima liderada por uma camabada de Montis mesmo que fossem de esquerda.
Mas não, limito-me antes a contar o desabafo do meu pai a quem de vez em quando vou dando conta destas coisas. Disse-me ele no tom irritado que é costume: « Ai filho, quantas vezes já te disse para não me vires chatear com parvoíces para as quais já não tenho nem paciência nem idade. Mas, apesar disso, diz lá ao gajo que eu quando andei a lutar tantos anos contra o fascismo e pela liberdade também foi para ter direito a ter um partido que fosse soberano nas suas orientações, decisões e acções.»